
... o que vale é que uma mulher vai aos saldos, compra uns trapinhos e sente logo o gelo a quebar...

Há dias em que uma mulher precisa mesmo de fechar os olhos e fingir que é noite.
Enquanto me detenho nas reflexões - que as minhas terminações nervosas ainda estão em estado de choque e precisam de uma avaliação satisfatória sobre as causas que as fizeram entrar em curto-circuito (curto?,mas não era longo? foi o vinho que duplicou tudo, está visto) para ver se aprendo a lição e a repito – vou-me lembrando de outras cenas bem acompanhadas, particularmente na qualidade dos vinhos.
Eu sabia que bastava um sábado mais ensolarado para a disposição melhorar.
Às vezes apetece-me furar-lhes os olhos, abanar-lhes os ombros metidos naqueles casacos que nunca vestiram antes e que brilham de presunção pouco aprumada, jogar-lhes à cara os discursos que a sua memória curta enfiou em pelo menos três sessões de palavra-atrás-de-palavra e mandá-los ir para a escola aprender a conjugar os verbos na segunda pessoa do singular do pretérito perfeito.
Uma mulher não deve meter-se com homens que vivem de números. A não ser que sejam cifrões, mas isso é outra conversa.
Do que me lembro melhor é da contemplação da imagem do espécimen dito divino que ela publicou lá na salinha onde se chutaram trezentos e tal comentários esta madrugada. Sem sinais visíveis de divindade no deus exposto e à falta dos amigos do Adriano - esses sim de fazer crescer água na boca – decidimos que nos encontraríamos as duas para comprovar se seria moda ou não essa coisa de percentagens na capa de jornais. Seríamos nós meninas de fazer engrossar as estatísticas ou outras coisas igualmente mediáticas? Pelo sim pelo não montei-me na minha vassoura de cano grosso e fui a caminho do mundo misterioso da cenestesia. (uma vassoura sempre serve para alguma coisa...)
Devolvi o anel ao Vasco Nabo. Aliás cedi imediatamente e nem quis ouvir mais nada depois da dureza do “não me digas que o perdestes?”.
Disse-me que o jantar ia ser em grande e que eu devia ir muito bonita. Isso não seria problema, disse eu, mas o Vasco replicou que caprichasse no decote, já que os atributos devem sempre saltar à vista.