quinta-feira, dezembro 28, 2006

Romance em Si maior

imagem daqui


Primeiro perguntou-me se preferia a flauta doce ou a travessa. Por mim gostaria de começar pela doce mas não deixaria de querer conhecer a outra. Então ele veio, munido das duas e deslumbrou-me com a magia da música que parecia contar-me histórias de ninfas e de pastores. Tocava em graves suaves, cheios; em registos médios, brilhantes, melodiosos; e prometia agudos penetrantes, claros e precisos.
O meu lirismo passa imediatamente de presto a prestíssimo, quando um homem pega no seu instrumento e executa melodias que tiram a respiração a qualquer mortal. Porém, nunca me tinha passado pela cabeça que um flautista pudesse ser interessante fora do palco. Não é por nada mas acho-lhes sempre algo de , provavelmente pela associação lexical do deus com os outros. Não era o caso.

Chamei-lhe encantador de serpentes, num murmúrio dito ao ouvido, o que o deixou ainda mais brilhante na execução.
À medida que as ondas sonoras se propagavam pela sala, passavam do ouvido à alma e da alma ao corpo, que vibrava, qual metrónomo, com o andamento moderado de tão magnífica flauta.
Entusiasmada com tamanha harmonia era já eu que comandava os andamentos pedindo, nos meus gestos insaciáveis, o ostinato rítmico, acompanhando o cânone em oitava de modo a tirar partido dos meus agudos. Nessas alturas ele acelerava e quando já ia em 60 semínimas por minuto tive de pegar na batuta com as duas mãos e reduzir-me ao pianíssimo, ou a música terminava logo ali.

A flauta é ágil e costuma ser o instrumento usado em passagens rápidas e salteadas – ele tinha-me avisado – mas eu tinha replicado dizendo-lhe que um flautista precisa de saber ter controlo sobre a natureza do seu instrumento, sob pena da peça perder qualidade.
Deliciei-me, pois, um pouco mais, em verdadeiro adágio, atenta à maneira como ele rangia o frulatto ou como usava os dedos tapando e destapando os orifícios para modificar o comprimento da coluna de ar e obter, assim, sons múltiplos, soprados em registos andantes. Usava a embocadura a rigor, no ângulo certo, acrescentando virtuosismo ao desempenho.
Depois, sim, foi a altura ideal para o vivace, fortíssimo, num vibrato extremo como eu não supunha que algum flautista fosse capaz.

Romance digno de registo, este.

terça-feira, dezembro 26, 2006

Coisas que só se comem em certas alturas

Eu sabia que me estaria reservada uma surpresa para o dia de natal.
Foi como num destes finais de ano em que me prometeram um anjo para o dia seguinte e eu não acreditei: pois ele veio, sim senhor e logo me foi encontrar desgrenhada, ainda em pijama e com as ruguinhas todas acentuadas pela noite de insónia. E veio carregado de tâmaras e passas de uvas. É claro que eu já estava bem enjoada dos excessos da véspera, mas o desígnio cumpriu-se. Vinha tudo um pouco amassado da viagem mas não teve importância, foi o suficiente para ter a certeza de que sou uma mulher com dias de sorte. Pena serem poucos, mas bem pensado, aquilo do outro dia sobre uma queca e um aquecer de pés… a conclusão não foi lá muito vantajosa para o aquecimento global; talvez uma aquecidazinha de vez em quando seja quanto baste para ser bom, porque há uma diferença entre o “até logo” e o “anda cá”. Um “anda cá” parece-se com uma corda e uma mulher não pode ceder a prisões, sob pena de não ter mais nada quente até ao fim da vida senão os pés.
Foi boa a surpresa. Não me lembro de ter vivido antes um momento assim (mas a gente nunca se lembra; quando corre bem esquece-se tudo o que está para trás). É certo que no dia 22 de Dezembro as coisas não correram mal para o meu lado, mas foi aquela cena da obrigação de contribuir para a paz, quase como quando nos metem na mão um saco, à entrada do supermercado, para contribuirmos para o banco alimentar. A gente dar, dá; e até gosta de ajudar os mais necessitados, mas há dias em que quem necessita somos nós!
Pois foi isso, foi assim uma cena entre o “até logo” e o “anda cá”, uma coisa que satisfez a necessidade de ajuda alimentar mas sem ser aquele arroz carolino do costume ou a massinha de pevide ou a sardinhazita em conserva.
Como é que eu posso explicar? Assim uma coisa situada entre um tronco de natal bem trabalhado e um “mon chéri”, que tem de se meter todo na boca para não ficar a escorrer pelos lábios. Coisas que só se comem em certas alturas.
Depois fiquei na paz dos anjos e, ao acordar, percebi que ele deixara na mesinha de cabeceira um pequeno livro com o retrato de Afrodite na capa.

sexta-feira, dezembro 22, 2006

22 de Dezembro - dia do Orgasmo Mundial pela PAZ



Quem é que podia esquecer a data?


A selecção foi difícil mas foi um prazer ...
Obrigada a todos os que se candidataram. É claro que os eliminados não eram desperdício nenhum mas eu tinha estabelecido as minhas regras.

Não posso perder mais tempo... vamos à PAZ!!!!!!!!!!

quinta-feira, dezembro 21, 2006

Eu nas prateleiras de um hiper-mercado… uma questão para reflectir …



Veio ter comigo e disse-me assim de uma assentada:
- Tu contas-me tudo e eu escrevo o livro.
- Conto? Mas conto o quê?
- Tudo, sei lá!, tudo aquilo que sabes dos gajos, tudo o que quiseres dizer sobre os tamanhos, as medidas, os desempenhos, as fantasias… sei lá!
Usava aquele sei lá de uma maneira irritante.
- No meio de tantas aventuras há-de haver por aí um famoso qualquer, não me digas que não!
Que raio de conversa. Eu já sabia que não lhe podia dar confiança, mas era bem boa aquela energia toda, nos dias mais frios.
- Mas nem é por isso; basta a situação em si: já viste a capa preta assim com as letras vermelho-fogo “Não compreendo os Homens!” Púnhamos a boazona da vassourinha em lugar de destaque e …
Logo, logo não percebi onde é que o Romi queria chegar. Mas ele não se calava. Já há uns tempos que andava bem lixada por lhe ter dado bola. O rapaz era competente, não digo que não. Mas era complicado aguentar-lhe o ritmo da conversa, sempre a queixar-se que fez o curso de Ciências da Comunicação para ficar no desemprego e que o sistema estava a esmagar-lhe as capacidades e que só não criava um jornal porque lhe faltavam outsiders da sua cepa e que no Brasil é que se safava bem…
- Vais ver que rende. Nesta época vende-se tudo. Se me contares coisas escaldantes e eu apimentar um pouco as cenas... estamos governados até à próxima quadra. Tudo a meias, claro! E ainda tenho a vantagem desse teu humor me dar cá uma ponta!

Fiquei a pensar no assunto. Palavra que fiquei.
Bem sei que os blogues são lugares de desabafos e é só por isso que este textozinho não destoa dos demais. É que o Romi tem razão! Mas por que é que há-de ser a meias? Eu, Fausta Paixão, sou mulher para isso e para muito mais!
Deixo passar a quadra (pode ser que o Pai Natal me compense, caramba, tenho andado tão certinha nos últimos tempos!) e depois… mãos à obra!

domingo, dezembro 17, 2006

Eu, Fausta Paixão


Estive quase a sucumbir, amigos, mas mulher que é mulher não se deixa gelar assim por coisa tão pouca como a falta do Natalino ou de quem o substitua. É certo que aconchegar os pés não é o mesmo que dar uma queca; dar uma queca é coisa de grande amplitude térmica, começando-se normalmente pela parte mais quente mas chegando-se rapidamente ao grau zero. Gelo outra vez, lá está!!!
Noites demoradas, com uma pitada de romance à mistura e… quem sabe, um grãozinho de promessa a mexer na alma… isso sim, já vale a pena porque o calor não se perde naquela parte da cena em que se apanham os trapos caídos pelo chão. A gente puxa o cobertor para junto do queixo e encaixa-se no outro, com todo o tempo do mundo e com vontade de só acordar no dia seguinte e … bem, já estou a divagar e a desejar coisas impossíveis quando toda a gente sabe que recorrendo à velha botija também se fica aconchegado; com a vantagem de não se ouvir o outro a ressonar.
Onde é que eu quero chegar? É muito simples de perceber – é tudo uma questão de vantagens: ter os pés aquecidos é meio caminho andado para um dia termos de levar à editora as folhas escritas de um livro natalício a denunciar o cheiro a chulé, os pneus decadentes, a dentadura postiça, a psoríase nos cotovelos e, pior ainda, ao fundo das costas, coisa horrível, parecendo-se o homem com uma saca de farelo já rota. Ah!, e os comprimidos azuis na mesinha de cabeceira e o hábito de coçar os tomates com a mão que não segura o comando, quando se distai a ver televisão.
Ter os pés quentinhos é ceder depois, também, a “são só mais três folhas, querida, até acabar este capítulo” e duas horas depois vê-lo fechar o livro com um sorriso sacana a dizer entre-dentes “tenho de comprar este para o Aires e resolvo assim dois problemas: o da prenda de Natal e o do cachecol do dragão que ele exibe à segunda-feira quando chega ao gabinete".
O outro tinha razão: aqui em Portugal o que vende bem não são os escândalos sexuais, mas sim os da corrupção. Sobretudo em época natalícia, que ao menos para isso temos dois olhinhos.
E… sabem que mais? Já não me falta muito para compreender os homens: “ a corrupção e não o sexo foi sempre o maior entusiasmo português” (1).

Sucessos, eu? Como, se a única coisa que os põe de pé é o futebol!
(1) Vasco Pulido Valente, Público, 15 Dez. 2006

sexta-feira, dezembro 15, 2006

Só encontrei gelo



Arrefeci um pouco no gelo do Norte. Não trouxe o Natalino.
Também não encontrei o Pai Natal. Não sei se estava fechado em casa, farto de mulherio ou se por ali as pessoas desaparecem, como duendes na floresta.
Aqui no Sul a gente tem sempre mais calor. Deve ser por isso que gostamos de andar na rua e falar muito. Bem... também gostamos de estar em casa, de preferência no aconchego de uns pézinhos quentes. Se para alguma coisa os homens servem é para esse pequena falha que nos acontece no Inverno.
Os homens do Norte são calados, sentam-se quietos, de mãos no colo e olhos de carneirinho. Não sei como são na cama, não cheguei a vias de facto, mas aquilo não me pareceu chão que desse uvas. O vinho, aliás era sempre do Sul.
Estou melancólica? parece que sim. Deve ser o efeito do mês de Dezembro, que é um mês que todos detestam, embora finjam que não e continuem a pendurar as bolas nas árvores de natal.
Não há pendurezas que resistam a tanta repetição, anos e anos seguidos!

Viram a fotografia? Pois é isso mesmo!
Por agora nada mais do que gelo e árvores despidas.

terça-feira, dezembro 05, 2006

Em memória do Natalino, que eu hei-de trazer de volta...



Uma mulher não passa sem a sua dose de ternura.
Por mais que digam que as coisas do corpo são assim a puxar para o mecânico e que depois de oleada a engrenagem tudo funciona com menos chiadeira, quem me tira as doces memórias tira-me tudo.
Bem… tudo, tudo, não!, porque de memórias não se vive propriamente com a qualidade desejada, mas esse é outro assunto; e não é agora que vou estragar o espírito natalício - que este mês já começou a anunciar-se - trazendo exigências à conversa. Para isso já bastam os comentários bem mordazes dos homens que passam por aqui.
Só que hoje deu-me para a nostalgia e lembrei-me do Natalino.
Ah! Não venham para aqui dizer que sou mulher insatisfeita. Nem tudo me correu mal na vida!
É por isso que em dias como o de hoje, com a chuva a fustigar-me as vidraças (ui, que mimo de frase!) e as memórias a darem-me cabo do canastro, veio-me à memória o Natalino, que partiu dizendo que o amor é bom mas tem o seu tempo, como todas as coisas.
Ora, não sendo eu mulher de ficar quieta à espera que os Pais Natais caiam dos céus, resolvi que eu também vou partir. Vou rumo ao frio do Norte. Não é que eu goste muito dos efeitos do frio sobre a pele dos interiores, mas se o encontrar… juro que o trago para junto da minha lareira, mostro-lhe a imagem da árvore de Natal maior da Europa para o estimular à competição e hei-de mantê-lo quentinho até à conso(l)ada.

sábado, dezembro 02, 2006

e nem à lupa!!!

Eu esquadrinhei os lugares certos, passei a mão por tudo o que era simulacro de volume, olhei de frente, de lado e de trás... e, não confiando no tacto, recorri aos outros sentidos: cheirei, fechei os olhos para ouvir a ressonância dos interiores, abri os olhos para me enfeitiçar de novo na profundidade dos dele... faróis que iluminavam a noite e eu perdida na luz divina da perfeição.
E só eu sei o que me tentam uns olhos assim sedosos, a chamar a chama, a laborar em labirinto louco, aprofundando o desejo na doçura da expectativa.
E poderia continuar a descrição, narrando também a demora, porque me apetecia fazer render aquele tempo preliminar...
... mas estava incomodada com a letargia, com tanta paz colada às mãos, com a imobilidade dos músculos em rosa vergado, belos... mas frios como todo o mármore.
Puxei da lupa.
Que diabo! Os que cheiram a cavalo suado afugentam-me; os apolíneos puxam por mim, mas por mais que eu aposte na reciprocidade... nem à lupa, deus meu... nem à lupa!!!
A falta dele é desesperante.
Mandei-o embora. Nem lhe quis saber o nome.
Ficou, definitivamente, anónimo!

sexta-feira, dezembro 01, 2006

Sirvam-se... cada um come do que mais gosta...



Enquanto vamos esperando... temos de ir ingerindo umas calorias.

Hoje é por minha conta!

Se quiserem mais é aqui...