domingo, abril 30, 2006

Eles precisam é de levar no côco

Andei há dias a viajar pela blogosfera e fiquei estupefacta. Bem sei que só se fica estupefacto quando se é pouco dotado de cérebro, mas na verdade a minha especialidade é mais corpórea.
Mas dizia eu que me espantou o número de blogs que pretendem pôr os leitores a sonhar com sexo, provavelmente virtual e solitário, que ninguém anda a visitar blogs aos pares.
Pois é verdade, perdi-me neste deslumbramento bloguístico em cenas recheadas de gemidos e de provas fotográficas! Mas muito às claras e assim tão aberto de intenções que retira toda e qualquer hipótese uma pessoa normal se sentir tentada.
Fiquei a pensar que deve ser esta abertura que provoca em alguns jovens imberbes a atracção pelas minhas ligas pretas e a necessidade de procurarem contacto comigo na ânsia de virem a conhecer mulheres mais velhas. Procuram, certamente o contacto com a sabedoria que elas trazem coladinha às rugas.
E aqui vem a parte sociológica da minha reflexão.
Pensem lá comigo: estes adolescentes têm mães jovens, tias jovens, avós jovens... ou mesmo pais jovens, que as explicações freudianas funcionam para os dois lados como se comprova cada vez com mais propriedade.
Como é que eles podem usufruir, algum dia, da sabedoria de uma mulher madura se à sua volta toda a gente faz tudo para se manter jovem no aspecto e nas atitudes?!
Além de que estes meninos nunca ouviram um não, porque um não é sempre um trauma, como todos sabemos e apregoamos, esforçando-nos por nunca negarmos aos filhos aquilo que nos negaram a nós.
Aliás só os tribunais é que usam uma sabedoria fora de moda para nos chamarem a atenção acerca do efeito benéfico de umas boas palmadas, já que os pais deixaram de o fazer, as escolas deixaram de o poder fazer e o facto é que a necessidade parece existir. Logo, os pobres jovens precisam tanto de levar no côco que não perdem uma oportunidade de conhecer uma mulher mais velha que se assuma como a sua Dona e os obrigue a latir que nem cachorros aluados, enquanto lhes dão violentos puxões no couro da trela.
Foi por isso que o relato da minha experiência de BDSM, contada aqui com pormenores genéricos, chamou ao meu email privado uma quantidade de pobres zézinhos que andam por aí desesperadamente à procura de quem lhes dê uns tabefes para conseguirem sentir aquilo a que normalmente chamamos tesão.

quinta-feira, abril 27, 2006

Falta de liquidez


Começou por me falar em sistemas de contas prometendo-me, pensava eu, umas dignas férias numa ilha tropical.
De facto eram generosas as referências aos auxiliares financeiros e às coberturas cruzadas e todos os cálculos tocavam nos fundos como só uma coisa sólida consegue, quase como se quisesse dizer-me que o seu background não oferecia razão para déficits de qualquer espécie.
Não lhe conheci vícios consumistas a não ser as gravatas, coisa que me agradava bastante pois esse acessório masculino passou a ser essencial para mim no dia em que lhe descobri as inúmeras aplicações, todas elas de elevado grau de perversidade; todas boas, portanto. Mas propriamente cativar, só cativou quando me falou na elasticidade da oferta, apresentando-me fórmulas graciosas que desafiavam a minha imaginação com detalhes equacionados em deltas. Dizia ele que a oferta podia ser rígida, unitária ou elástica. Claro está que entendi esta elasticidade como qualquer coisa que permitia dimensões infinitesimais e já me ia crescendo água na boca com a representação gráfica do ponto de equilíbrio. Isto para não falar da oferta rígida, mas essa estava assegurada à partida.
Não é que eu rejeitasse a concorrência perfeita, que nestas coisas as concentrações monopolistas trazem lucro mas só enquanto duram; o facto é que preferia qualquer holding, a ter de ser, quer pelo volume conseguido com a fusão vertical, quer pelo controlo à vista.
Bem, todas as minhas expectativas se viram frustradas quando ele me enunciou os limites ao mecanismo de troca directa: é que a existência simultânea de duas pessoas, cada uma delas querendo adquirir o bem possuído pela outra, podia ter funcionado se nos mantivéssemos no domínio das metáforas, como é do meu gosto. Contudo, o indivíduo tinha um espírito muito numérico e falava de sociedades por acções de forma a vir a usufruir de benefícios fiscais.
E eu? Feita a análise de risco, que valor acrescentado me traria esta cena?
Meu amigo – disse eu – a tua curva de Lorenz é coisa que fica muito aquém do meu valor facial e, como sabes, há muito que o sistema fiduciário deu o que tinha a dar.
E foi assim, por falta de liquidez, que o homem da bolsa se converteu, ali mesmo, em activo incorpóreo.

domingo, abril 23, 2006

O que é que me falta depois disto?

Hesitei um pouco quando ele me soletrou aquelas iniciais mas um certo ar possante, travado depois por uma estranha atitude submissa, intrigou-me o suficiente para não ficar por ali. E depois havia o aspecto, claro. O brilho da cabeça rapada dava-lhe uma graça acrescida, tanto mais que pairavam ali uns olhos infantis num rosto de adulto assumido. Uma coisa que atraía e amedrontava sem se perceber porquê.
Disse-me que detestava baunilha, mas como eu tinha perfumado nessa manhã com um aroma adolescente de framboesa, julguei ter ouvido uma voz aprovadora.
Enquanto bebericávamos, ao som da batida musical envolta em semi-trevas, num local onde eu tinha ido parar sem saber ao que ia, falou-me do seu gosto pela beleza do corpo feminino, que comparava a um local de culto, assim como um altar de sacrifício. Aprovei-lhe o gosto, respirando mais solta por tão vinculada orientação sexual, que hoje em dia nunca se sabe se o nosso companheiro dos copos não vai confessar-nos outras coisas ante a nossa expectativa de fêmeas disponíveis.
Arrastou-me depois para um local mais protegido dos olhares e desviou a cortina, fazendo-me entrar. Deliciei-me com o beijo mas incomodou-me que me paralizasse os movimentos enquanto me inundava de boca e língua.
Quando me habituei ao escuro da saleta divisei as iniciais gravadas na parede – BDSM – e surpreendi-me com a quantidade de acessórios que por ali estavam, ao dispor das mãos. Chamou-me cadela. Já não estava a gostar da brincadeira!
Pior foi quando me falou em barras de imobilização e me disse que podíamos alternar: “agora passas a D…”
Humm??
“Switcher, minha adorada Dona; sou o teu escravo, e sirvo os teus prazeres”.
Onde é que eu me vim meter, pensava eu já meio azamboada com os gemidos que vinham de um sítio próximo, enquanto uma coisa sibilava, talvez um chicote. Era o silvo de um chicote.
“Sou o teu ponyboy, vês?, trago coleira”, e exibia o couro apertado, vincando a pele, sob a camisa preta. E pediu, com ar angelical: “magoa-me, bate-me!, e aprenderás que a dor e a bondage vêm apenas como sinais de poder, do teu poder; e que isso é que é o sublime, nesta nossa relação em que um possui e o outro agradecerá a dignidade do domínio”.
Quando me precipitei para a porta de saída olhei de relance para um indivíduo que se sentava, altivo, junto de três figuras femininas ajoelhadas e de cabeça para baixo.
Só tive tempo de fingir ter perdido a carteira, acocorando-me para a procurar, no que incentivei o porteiro a ajoelhar ao meu lado o tempo suficiente para, de sapatos na mão, deitar a fugir pela rua abaixo até mandar parar o primeiro táxi que me apareceu na noite.
Livra! PQOP!!!
"Como disse, menina?" perguntou o taxista, surpreendido.
Puta Que Os Pariu, disse eu, respirando aliviada.

sábado, abril 22, 2006

E elas a darem-lhes com as correntes!




Ela e a outra queriam isto a rimar, mas eu não tenho paciência para ficar acorrentada às rimas.

Lá vai disto:

Alegrias – nas orgias, se possível todos os dias;
Dores – nos desamores, vá de retro...
Casos – venham eles aos cabazes!
Conselhos – quando eles se põem de joelhos...
Meninas – nas casas mais finas.
Mulheres – longe de mim...
Orgasmos – não gosto de perder um...
Ódios – nem vê-los;
Domicílios – prefiro que eles venham (depois de mim, se possível);
Adeuses – a culpa é deles;
Artes – as do corpo, em todas as partes;
Professores – só alunos, já tenho a escola toda.
Prazeres – primeiro os meus!
Projectos – compreender os homens.
Inimigos – as mulheres dos meus amigos;
Amigos – só depois de os conhecer por dentro.
Cor – a do amor (e a da lingerie)
Meses – todos (menos aqueles dias);
Elementos – tenho tido azar com os matemáticos.
Divindades –o Sutra na cama...
Vida – sexo... acorrentado...
Morte – abstinência.

terça-feira, abril 18, 2006

O que me faz falta é um Homem do AKI


Mas por que é que as coisas nunca são perfeitas?
O cozinheiro especializou-se nas espetadas mas só lia manuais de cozinha; o matemático sabia de integrais mas não conseguia chegar ao valor máximo da curva de gauss; o empresário tinha papel mas até feria os tímpanos quando conjugava os verbos; o massagista não tinha outras referências que não fossem as musculares; o pianista só tinha mãos para as teclas, no resto era um bloco de gelo; o Rebelo Tinto conseguiu cravar-me a verba suficiente para a sua primeira edição, sem dar nada em troca; o luso-francês não saía dos chats dia e noite; e eu a sustentá-lo; o filósofo era o máximo nas reflexões mas tresandava a vinho tinto; o Dani era vigoroso mas a voz tinha um tom metalizado, o que fazia com que nas situações mais íntimas me sentisse a bater latas; o Fábio até fazia dó, de tão tenrinho; mas não foi por isso, teve azar com aquela tirada filosófica a lembrar-me que podia ser mãe dele; o Julião sabia ritmos africanos de ir aos céus, mas não atinava com as letras; o Natalino… bem o Natalino pode voltar na próxima quadra, mas já sei que é para lhe voltar a pôr os cornos porque o seu sonho era ser rena.
É assim: os intelectuais são excessivamente efeminados, quando não descaem mesmo para o frouxo; os mais destros de mãos têm a mente travada; os mais jovens têm a fixação das mulheres maduras mas aquilo é um ver se te avias, os mais velhos ou são barrigudos ou ressonam. E uma mulher quer um homem para lhe fazer um furo ou para lhe reparar uma canalização e nada!
Não quero dizer que nada valha a pena; aqui onde me vêem não posso dizer que tudo correu mal. Mas falta qualquer coisa…

Que me resta? Desistir?
Humm… acho que vou à procura dum Homem do Aki.

sábado, abril 15, 2006

Relaxamento

Começou, pois, por me massajar os pés para aliviar o entorse. E ainda bem que pôs gelo, porque a massagem tem sempre propriedades caloríferas e a temperatura ia subindo...
Não sei se achou graça à história que lhe contei sobre a causa das dores; ficou muito sério. Provavelmente não viu o filme, foi o que eu pensei. Massagistas e poetas não têm muito a ver, dada a natureza das funções. A mente e a mão, embora associadas em muitos aspectos, ali não mostravam ser gémeas, mas que a mão era valente disso eu não tinha dúvida. E grande!
Mandou-me deitar de costas e percorreu-me a coluna, da lombar à cervical, com os nós dos dedos, de baixo para cima. Deslizava sobre o óleo que me derramou na pele e sentia-se o cheiro do incenso que deixou a arder sobre a bancada.
A seguir trabalhou-me os grandes dorsais em movimentos circulares. Senti as mãos subirem para a cervical de onde fazia deslizar os dedos com suavidade até à nuca. Creio que adormeci. E ele ali a esmerar-se. Tanto que deve ter-me posto noutra posição porque acordei com as suas grandes mãos sobre as virilhas e abri os olhos de espanto. Disse que estava a fazer drenagem linfática massajando as safenas e eu acreditei, deixando-o drenar mais um pouco. Há ali uma zona, como sabem, entre o costureiro e o tensor de faixa lata, na intersecção com o recto do abdómen, em que a passagem das mãos e a pressão dos dedos provoca um aquecimento especial pelo que dei comigo a transpirar. Devo ter-me contraído um pouco, porque o que a seguir senti foi uma palmada no glúteo, para me facilitar o relaxamento, disse ele.
Depois começou a explicar-me a necessidade de alongar toda a musculação para evitar os problemas do encurtamento. Elucidou-me sobre a musculatura, em geral, exemplificando sempre e finalmente passou às técnicas especiais de amassamento para estimular pontos-chave, seguida da reflexologia para o fornecimento suplementar de energia e a dissipação dos bloqueios. Não é que eu me sentisse bloqueada, nada disso. Porém, foi nessa altura que a minha entrega nas suas mãos foi integral.

quinta-feira, abril 13, 2006

Saltos impulsivos

Não tenho aparecido porque ...
... confesso que exagerei no salto.
Como podem imaginar, precisei de recorrer aos serviços especializados de um massagista.
Tem sido bom, mas hoje...
... hoje ele disse que ia começar pelos pés e depois logo se veria. Falou em massagem integral. Até me arrepiei!

Aí vou eu..........................

sexta-feira, abril 07, 2006

Oh Captain, my Captain


Ora cá está a minha participação para o concurso que se realiza aqui e aqui .








A minha grande questão andava sempre à volta da quadratura do círculo. Havia em mim a curiosidade das linhas infinitas, das intersecções, das elevações do xis e das inúmeras possibilidades das funções f.
Não me perdoava, pois, a ignorância no que dizia respeito às operações concretas, embora me saísse muito bem nas mais complexas operações formais. O que me minimizava sempre diante dos meus amigos intelectuais eram as referências constantes aos integrais e às derivadas, embora todos soubessem o que me passava pela cabeça perante este tipo de referências. Mas o que eu precisava de saber, mesmo, era como efectuar o somatório de coisas contínuas. Em termos pragmáticos esse tipo de operações não me oferecia dificuldade, quanto mais continuidade melhor, era o meu lema. Mas o pior era sempre a parte teórica.
Decidi, pois, frequentar aulas de Matemática no SPA (Special Pythagoric Academy), por recomendação especial do meu amigo Assis Matoso, cuja especialidade era o grego.
Tinham-me dito que o prof era o retrato chapado de Apolo e que só dava lições a adultos, por isso dali só se saía para o Olimpo, mas com toda a sinalética no papo, do alfa ao ómega. Achei a ideia genial: finalmente iria perceber o verdadeiro valor de Pi.
Espantei-me por ser a única pessoa na sala, mas soube depois que o prof P. Lorca fazia sempre isso para avaliar bem o recém-chegado às suas mãos. E eu, na boca dele, tinha todas as hipóteses de vir a ter sucesso na aprendizagem. E quando o disse agitou o ponteiro de uma forma sensual apontando-me o quadro. E eu fui.
Mandou-me desenhar um circulo. Lá dentro, um quadrado. Depois quatro triângulos isósceles. Disse, então, que tínhamos obtido um octógono regular inscrito no círculo. Agora eu só precisava de ir acrescentando triângulos até obter grandezas tão pequenas que tendessem para o limite, só então poderíamos falar de integral, dizia ele, face à minha urgência em aprender: “observamos que o conceito de integral pode ser introduzido de várias formas…”
Comecei a exasperar-me: introduzido de várias formas? Para conseguir saber a área definida pela curva? Mas… através da adição de micro-grandezas?
Pus-me a pensar que o melhor seria pedir-lhe as derivadas; sempre podia propor-lhe uma tangente à curva e aí fazia a demonstração dos meus conhecimentos, pois se ele pensava que estava perante uma caloira qualquer, estava bem enganado, o anjinho. Sim, porque os matemáticos têm todos aquele ar asséptico e aquele olhar-de-carneiro-mal-morto, no que se prova que a sua maior tarefa é a reflexão pura e simples; se a coisa se complexifica também lá chegam, digo eu, mas têm de fazer inúmeros raciocínios e esgotam-se em algarismos redondos. O que me surpreendia era o paradoxo, pois o P. Lorca dizia que o inconveniente do método de exaustão é que para cada novo problema havia a necessidade de um tipo particular de aproximação. E ficava ali parado a falar do Arquimedes.
Bem, a coisa ficou mais concreta com o exercício de cálculo de um integral triplo: ali no quadro desenhou um barril e, para que eu visionasse melhor a situação, colocou-me as premissas usando a minha linguagem. Falava de um navio de carga com barris de vinho. Teríamos de achar a logística da embarcação para não se correrem riscos. Logo, eram necessários integrais triplos para calcular o volume de cada barril.
E eu a imaginá-lo de corsário, ao leme dum barco pirata… sozinhos os dois a meio do oceano, carregados de barris de VQPRD.
Ainda o ouvi mencionar a expressão da curva do barril, mas depois passou-me assim uma coisa pela vista e não tive mais consciência dos meus actos, que foram todos tangentes à sua figura. E, num impulso que qualifiquei no limite oposto ao do zero, saltei para a mesa, elevei-me sobre as meias de seda bem esticadas nas pernas e, muito direita no olhar que lhe lancei, disse: “Oh Captain, my Captain”.