Devolvi o anel ao Vasco Nabo. Aliás cedi imediatamente e nem quis ouvir mais nada depois da dureza do “não me digas que o perdestes?”.
Respondi-lhe em graves: “não viste que o deixei em cima da cama?”.
Não costumo guardar más recordações. A vidinha tem muitas curvas e o Valentim Matias tinha o joelho bem caloroso quando o encostou ao meu por baixo da mesa. E, na verdade, tanto quanto lhe ouvi as falas, nada a apontar. Só um ou outro som distorcido pelo sibilar dos ésses, mas também eu andava a falhar em alguns pormenores, por isso estava tudo a condizer.
Ora bem, fomos aos fados. Era outra vez uma mesa larga e farta, cheia de gente, que tudo o que é de prazer faz-se em conjunto.
Ao afrouxar das luzes ele beliscava-me e eu tentava manter a compostura, que a situação era de respeito.
Ao intervalo dizia a Silvina: “ainda me falta um fadista no meu currículo”, mas um fadista sempre é um fadista e ela era rapariga espinhosa. Aconselhei-a a procurar antes um toureiro.
Mas eu conto. O Valentim deve ter-se enternecido com o xaile da madura, porque ficou a babar-se e a dizer-me que gostava que lhe vendassem os olhos com écharpes de seda.
E pronto, daí a nada estávamos no quarto a brincar à cabra-cega. De braços esticados, o Matias falava-me em seguir a intuição e dizia que trocava tudo pelo sentido do tacto. Às tantas sentei-me num canto a ver homem a andar à roda.
Não sei se foi da tontura ou do tinto propriamente dito, o que é certo é que o pobre estava com dificuldades em manter-se de pé e quando as pontas da écharpe se prenderam no puxador do roupeiro, o Valentim deslizou no tapete e antes de cair ainda deu uma cabeçada no tampo da mesinha de cabeceira.
Bem, poupo-vos os pormenores ensanguentados. Só vos digo que dali até ao hospital Amadora-Sintra ainda levámos uma meia hora. Mas o pior não foi isso.
Também me entendi com a enfermeira de serviço pedindo-lhe discrição. É que tive a sorte de dar de caras com a Sónia Susana, filhota da Josefa Félix que era minha amiga de longa data. Lá lhe contei o sucedido e ela a dizer que ficasse descansada que são coisas que acontecem, que era bem feito, que ia suturar o senhor sem lhe fixar o rosto, que o esqueceria logo de seguida, etc.
O pior foi mesmo quando o Matias entrou na sala e me disse baixinho “'tou feito! é a minha nora!”
terça-feira, janeiro 03, 2006
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12 comentários:
Os Valentins andam mesmo com azar.
É os microfones que não funcionam, são as toladas na mesa.
É caso para dizer como o primeiro disse:"Fdssss...!!
Este desenrolar de cenas é digo do "Rocambole"... as peripécias seguiam-se e pareciam não ter fim. Como os personagens eram muitos, usava uns bonequinhos de barro que atirava abaixo da mesa, sempre que um personagem saía de cena de vez.Só que alguns não se quebravam e a empregada voltava a pô-los na secretária no dia seguinte... e lá voltava o mesmo personagem, entretanto desaparecido, a entrar na narração de novo.
Já me ri que me fartei!
Por breves momentos até me senti a ler "O que diz Molero" ehehehehehehehehehheeh
Ah ganda Fausta tás com a pica toda , continua continua...
A nora? Isso é o pior que nos pode acontecer... :)
saludos
gosto destes desenvolvimentos. desta vez o artista falou pouco. estava a habituar-me aos tênhamos do Vasco Nabo, cujo anel tu perdestes.
eheheheheh
Espero que o Vasco Nabo não saia definitivamente da narrativa. É que são deliciosos os seus pormenores linguísticos.
Ola Faustinha!
Cada vez melhor!!!!! Tu da-lhes!
Abracicos!
A nora! Era pior se fosse a mulher ou o filha. Com as noras ainda se chega a acordos... se elas forem boazinhas. Mas andas com azar, Fausta :( Sofro por ti!
Temos encontro de espíritos marcado para as 3 da madrugada. E prontos.
Maria... nunca mais serei a mesma depois disso!
E o que vai ser da minha reputação?
Fausta, tenho Chat (os)! Acode!
Uiii!!!!!!!!!
Maria deixaste-me de rastos!
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