Primeiro disse que era Top Secret. E a mim nem me passou pela cabeça mexer no assunto, que me bastavam outras mexidas mais reais. É que nada ali estava a mais, nem uma prega, nem uma ruga, nem um sinal sequer que quebrasse a textura da pele. Mas não tirava os óculos escuros. Só isso é que me importunava um pouco.
Em murmúrio começou a falar de estruturas organizativas e da transferência para um pólo único. Polarizada estava eu, toda aninhada na firmeza de uns braços militarizados. Era o que eu pensava. Por isso não desconfiei de nada quando começou a dizer que tudo estava ainda no segredo dos deuses. E mostrava-me, olhando para um lado e para o outro, como que temendo a presença de testemunhas, os seus segredos interiores. Pediu-me que usasse também uns óculos escuros. Assim estaríamos a salvo, dizia. Alinhei. É excitante introduzir outras formas de olhar o assunto no momento exacto e as lentes pareciam dar ao acto um sentido de coisa proibida. Apetecida, portanto.
Apetecível a conversa, enquanto as mãos deslizavam e me avaliavam. Vi-lhe uma expressão de discordância; eu sei que não sou exactamente uma menina do gás mas não se pode viver só de aparências, dizia eu.
Quando me começou a falar de um novo canal ao mais alto nível da cúpula, entusiasmei-me. Mas misturava referências que me baralhavam o entendimento: pesquisa e tratamento de dados, duplicação de canais informativos, eficiência ao nível das secretas de todo o mundo. Já não estava a perceber se devia entusiasmar-me nas expectativas ou desconfiar da sanidade mental de tão promissor corpinho.
De repente deu um salto para o meio da sala, compôs os óculos e disse, determinado: “Não dá! Seguramente estás ligada a uma rede terrorista. Tenho de avisar o Sócrates!”
E foi assim, meio grega, que dei comigo a exercitar a maiêutica, repetindo vezes sem conta: "eu só sei que nada sei" e jurando a mim mesma não voltar a trazer para casa indivíduos camuflados atrás de óculos padronizados.
E agora? Que será de mim? Será que a secreta vai passar a perseguir-me no meu trivial quotidiano de mulher apaixonada?
Terei de contratar um guarda costas.
sexta-feira, fevereiro 10, 2006
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7 comentários:
Deste contigo a exercitar a maiêutica socrática? E já agora, porque não o ensino peripatético de Aristóteles?
cuida-te andam aí muitas taras eheheheh
jocas maradas
.....ora, receios infundados, não serão apenas alguns mergulhos mal calculados?.....
kiss e bom Domingo!
Deixa lá. Esses gajos com "tudo" no sítio costumam ser abichanados...
Bah!
Bem... sai-te com cada um!
bjs
eu se fosse a ti chamava já o Kevin Costner...
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