domingo, abril 23, 2006

O que é que me falta depois disto?

Hesitei um pouco quando ele me soletrou aquelas iniciais mas um certo ar possante, travado depois por uma estranha atitude submissa, intrigou-me o suficiente para não ficar por ali. E depois havia o aspecto, claro. O brilho da cabeça rapada dava-lhe uma graça acrescida, tanto mais que pairavam ali uns olhos infantis num rosto de adulto assumido. Uma coisa que atraía e amedrontava sem se perceber porquê.
Disse-me que detestava baunilha, mas como eu tinha perfumado nessa manhã com um aroma adolescente de framboesa, julguei ter ouvido uma voz aprovadora.
Enquanto bebericávamos, ao som da batida musical envolta em semi-trevas, num local onde eu tinha ido parar sem saber ao que ia, falou-me do seu gosto pela beleza do corpo feminino, que comparava a um local de culto, assim como um altar de sacrifício. Aprovei-lhe o gosto, respirando mais solta por tão vinculada orientação sexual, que hoje em dia nunca se sabe se o nosso companheiro dos copos não vai confessar-nos outras coisas ante a nossa expectativa de fêmeas disponíveis.
Arrastou-me depois para um local mais protegido dos olhares e desviou a cortina, fazendo-me entrar. Deliciei-me com o beijo mas incomodou-me que me paralizasse os movimentos enquanto me inundava de boca e língua.
Quando me habituei ao escuro da saleta divisei as iniciais gravadas na parede – BDSM – e surpreendi-me com a quantidade de acessórios que por ali estavam, ao dispor das mãos. Chamou-me cadela. Já não estava a gostar da brincadeira!
Pior foi quando me falou em barras de imobilização e me disse que podíamos alternar: “agora passas a D…”
Humm??
“Switcher, minha adorada Dona; sou o teu escravo, e sirvo os teus prazeres”.
Onde é que eu me vim meter, pensava eu já meio azamboada com os gemidos que vinham de um sítio próximo, enquanto uma coisa sibilava, talvez um chicote. Era o silvo de um chicote.
“Sou o teu ponyboy, vês?, trago coleira”, e exibia o couro apertado, vincando a pele, sob a camisa preta. E pediu, com ar angelical: “magoa-me, bate-me!, e aprenderás que a dor e a bondage vêm apenas como sinais de poder, do teu poder; e que isso é que é o sublime, nesta nossa relação em que um possui e o outro agradecerá a dignidade do domínio”.
Quando me precipitei para a porta de saída olhei de relance para um indivíduo que se sentava, altivo, junto de três figuras femininas ajoelhadas e de cabeça para baixo.
Só tive tempo de fingir ter perdido a carteira, acocorando-me para a procurar, no que incentivei o porteiro a ajoelhar ao meu lado o tempo suficiente para, de sapatos na mão, deitar a fugir pela rua abaixo até mandar parar o primeiro táxi que me apareceu na noite.
Livra! PQOP!!!
"Como disse, menina?" perguntou o taxista, surpreendido.
Puta Que Os Pariu, disse eu, respirando aliviada.

8 comentários:

mfc disse...

Livra!!
Mas a descrição do beijo é soberba!

antónio paiva disse...

.....ora ora minha cara, não te falta nada, se te faltar é porque nunca estás satisfeita e inventas necessidades, quem nem ao demo lembram, quanto ao manguito p'ra mim não há ponte, quer dizer há as que tenho de atravessar, e não me puxes pela lingua, que eu bem sei de quem teve ainda há pouco um conjunto de pontes, e já agora grande pontaria a tua, visita 6.000.....

Beijo onde mais gostares e boa semana

Fausta Paixão disse...

chuvisco, és um linguarudo!

Anônimo disse...

"Livra! PQOP!!!" eu hem???? nesse sufoco queria lá saber dos sapatos e se calhar nem via o táxi:):):)
Mas gostei da narrativa:)

antónio paiva disse...

......bem bom feriado e não te metas nem te deixes meter.... em confusões.....

Big kiss

ivamarle disse...

só me ocorre uma palavra: FÓNIX!!!!!!!!!!!!

stela disse...

Grandas confusões que tu te metes!
Irra! Têm cuidado...
bjs

kimikkal disse...

LOL