sábado, novembro 05, 2005

Ele já foi

Cá vai o segundo trabalho de casa...
O destino é o lugar do Escritor Famoso.


Ele chegou...
Trouxe a pressa das certezas
Na azáfama do tempo
Não cheguei a ver-lhe os olhos
Não lhe vi sequer o rosto
Contudo li-lhe as palavras
Presas nos cantos das mãos
Mãos intensas, mãos em fogo,
Mãos tecedeiras de afectos
Nos farrapos do desgosto.


Ele sorriu...

E sentou-se à minha beira
Partilhando o meu sentir;
Trouxe palavras ousadas
Mas disse algumas, apenas
Que as palavras todas ditas
São como as vidas expostas
São corpos nus ao relento
E vão quebrando o encanto
Das ligações mais bonitas.


Ele está cá…
Desde o dia em que contou
Com palavras do passado
As histórias da infância
E a natureza sublime
Da sua alma de artista;
Foi quando soube que as mãos
Apinhadas de sentidos
E aladas na surpresa
Eram mãos de pianista.


Ele ficou...

Desde o dia em que escutou
As palavras que eu dizia,
Desde o dia em que me olhou
Fazendo girar as crenças
Daquilo que já não sou
Porque inaugurou o dia
Da grande revelação
Dita depois em palavras
Sopradas pelo coração.


Ele já foi
.
Virou as costas ao antes
Levou a pressa na fuga
Passou os olhos p’las mesas
À procura de sinais
Deixou coisas importantes
Roupas, palavras, papéis
Deixou o tempo nas estantes
Onde os livros de princesas
Já roídos pela traça
Contam histórias imortais.


Se um dia fizer sentido
Recuperar as memórias
E olhar para o passado
Mas já de outra maneira
Direi que uma vez fugiu
Num abandono de louco
Sem olhar sequer para trás
Para não ver amarfanhadas
As roupitas na cadeira.

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