sexta-feira, fevereiro 09, 2007

Encenações

O que mais me aborreceu foi aquela mania de supervisionar e dirigir a montagem. Mais do que aborrecer… direi mesmo que me foi insuportável tanta presunção de profissionalismo.
Criar e interpretar personagens sim, tudo bem, mas com funções pedagógicas? Ou pior, ainda, com funções de intervenção política? Ele pensava que estava a lidar com quem?
Às tantas se não me tivesse livrado dele ainda me caía ali com os argumentos moralistas dos defensores do não!
É que nas representações vocais e corporais ele não tinha nadinha a repreender no meu desempenho. Nos adereços eu esforçava-me por ser diversificada e no guarda-roupa, enfim, sempre me valia das minhas formas e dava um jeito para conjugar estilo e economia, ‘tá bem, não se pode ter tudo… ou pode? Ele é que não fazia esforço de inovação e os auxiliares nunca estavam a jeito quando as anotações apresentavam linhas em branco.
Recriar… recriar… enfrentar o desconhecido para o recriar como se fosse novo…
E eu ali a vê-lo em plena encenação, à espera da cena mais desejada.
Quem me manda a mim meter-me com gente do espectáculo! Espectáculo é o que eu procuro sempre mas estes, então, é um ver se te desembaraças porque o que lhes interessa não é mais do que a perspectiva pessoal, a filosofia do palco, a ideia de que todo o processo de conhecimento deve constituir-se de uma parcela de não intencionalidade… e tal…
Ah, como eu me deixo levar facilmente por filosofias!
De naturalista e realista vi pouco, em má hora lhe dei ouvidos quando me disse que a performance seria basicamente uma linguagem da experimentação sem compromissos.
O que é que vocês faziam se vos propusessem uma experimentação sem compromissos? O mesmo que eu, certamente! E ainda por cima com aquela promessa de lidar bem com a transgressão, desobstruindo os impedimentos e as interdições colocadas pela realidade!
Ok, eu sei que a vida é um jogo teatral, uma encenação. Mas se ele dizia querer experimentar propostas cénicas que não tivessem o texto como ponto de partida por que é que passou o tempo todo a falar, a falar e acção… népias!
Meto-me em cada cena!

10 comentários:

Erecteu disse...

Estais cheia de sorte.
A ti ainda te saiem senas, a mim só duques!
Beijinhos

Erecteu disse...

Ainda a propósito, não tens damas no baralho?
Mais beijos

Anônimo disse...

falou falou...

porque estava cheiiinho de medo de ti
e o volume era

insuflado pois claro...

Fatyly disse...

É o que há mais para aí..."Encenações" :):):):)

mixtu disse...

Que cena, minha...
julgo que é assim se fala por Lisboa...
Que cena...encenações, experimentar sem compromisso, aqui concordo, que pena que já não se pode levar nada para casa sem compromisso de compra...
Besos

Maria Arvore disse...

Da próxima aceita só actores de mímica... que para esses o gesto é tudo. ;)

mfc disse...

Com encenação ou sem ela... a função é essencial!

Anônimo disse...

Se viesse com os argumentos moralistas do não a ponta...ria desaparecia toda.

asdrubal tudo bem disse...

a culpa é tua. Não há maneira de te convenceres que pouca letra e muita acção só mesmo com um asdrubalda vida :-)

Ness Xpress disse...

É dos que não perceberam ainda que o objectivo último da filosofia é a telepatia... Pelo meio, que esse caminho é longo, há que aprender a ouvir o olhar.