sábado, janeiro 20, 2007

oralidades


A actuação do jovem iniciou-se com uma avaliação da minha saúde oral.
Chamava-me paciente, para a cena ser mais verosimilhante. Pelo menos foi o que eu idealizei, mal me sentei na cadeira e ele a elevou até pousar os olhos sobre o meu peito. E eu a fingir paciência, por via daquele olhar muito lânguido, por detrás do plástico protector dos óculos.
Examinou-me a região intra-oral, através da qual observou minuciosamente a língua e o palato. As palavras, pronunciadas ali mesmo sobre o rosto, traziam um hálito a flores frescas, infelizmente quebrado pelo cheiro forte dos anestésicos.
... e a sessão, propriamante dita, ia começar!
Bem… aplicar o produto não custava, disso eu já tinha experiência; remover cálculos e manchas ainda vá que não vá, podia ser a etapa seguinte, mas a coisa azedou foi quando me falou na dessensibilização do seis e do nove, por excesso de hipersensibilidade.
E mais: aplicar selantes nas fissuras?! Ah não, isso seria demasiada cedência e uma mulher não pode entregar assim as decisões, de boca aberta, nas mãos do outro!
Que é que ele pensava? Que era assim que me incentivava às visitas regulares para a rotina? Que me mudava os hábitos alimentares e me impedia do prazer dos doces?
Um plano de tratamento só com a minha anuição, porque nisso de polimentos, alisamentos e amálgamas eu só alinhava se tivesse confiança nos instrumentos, particularmente no aspirador de saliva ou até no próprio aparelho de RX intra-oral, porque a boca de cada um é propriedade sua e nas minhas raízes não era qualquer pessoa que tocava.
E ele que não me viesse cá ensinar a técnica da escovagem porque se ela era frequente ou não era problema meu!
É claro que, de boca aberta, eu não lhe podia dizer nada disto, nem sequer dizer que sim, que já levava muitos anos de uso fio dental. Mas logo que ele recolheu o tubo lambi a secura dos lábios e fiz-me cara no troco: disse-lhe que era capaz de me sujeitar a tudo, mas que a minha hipersensibilidade tinha de permanecer a cem por cento.
Quanto às fissuras, ele que fosse apresentar a sugestão dos selantes à mãezinha dele porque essa sim, já devia estar fora de prazo!

22 comentários:

Vidigal Inácio disse...

Dada a posição paciente, de boca aberta e cheia de tubos, parece-me que o texto deveria começar da maneira que o Bagaço Amarelo acaba: "só em pensamento..."

Lilly Rose disse...

custa tanto não poder dizer nada, ali com o tubo enfiado! saiem-nos uns ah-ah-ah entendidos sempre como anuência! quanto ao ataque à nossa hipersensibilidade, concordo, sobretudo porque antes fazem questão de nos avivar os sentidos___ e isso é não é nada honesto!

Rafeiro Perfumado disse...

Fiquei-me na parte de usares fio dental há muito tempo...

Fatyly disse...

não sei o que dizer ahahhahahahah

Ivar C disse...

pelo menos não fez demasiadas perguntas...

Erecteu disse...

Mas que castigo. Já rcebi o postal e ainda não me dei ao trabalho.
Beijinhos

Anônimo disse...

E eu que detesto rotinas!
E essas de boca aberta e de fio dental...nem sei que te diga.
ah-ah-ah-

peciscas disse...

De boca aberta, fio dental e tubo enfiado - que quadro!

mfc disse...

Que seria de nós se não houvesse fissuras??!!

Maria Arvore disse...

As cadeiras dos dentistas são muito eróticas mas de facto, nem sempre nos deixam de boca aberta pelos melhores motivos... ;)

asdrubal tudo bem disse...

Olha que um dentista é capaz de ser melhor do que um arqitecto.Pelo menos é suposto ter jeito de mãos o que já não é nada mau. :-)

mixtu disse...

destesto dentistas... ou melhor detesto ter dor dentes... ou melhor... já nem sei o que detesto... às tantas nem detesto nada..
olha... detesto entrar aqui no teu blog e ler "não compreendo os homens".. é que nós somos tão faceis de entender: gostamos de gajas, da bola e beber cerveja com tremoço... yayaay

besitos e boa atitude para a aprendizagem do castellano...

mixtu disse...

ah! e antes escrevia "pastor" e agora até tremo... acho que nunca mais me referi a tal profissão... yaya

Bastet disse...

Mesmo a propósito vim hoje do dentista... e o pior é que ainda não há anestesia para a parte final... aquela em que nos sacam o dinheiro da carteira!

Anônimo disse...

Um grande Lol...ja descobriste de quem é o blog www.conversaemdia.wordpress.com

mixtu disse...

Permiso? Como me hablaran que usted pretende saber castellano, te escribo en la lengua de Cervantes y sus mohínos de viento…
Puedes siempre aprender castellano en la net… buscando “lecciones de castellano para pedir un café” por ejemplo…
Pesquisas… hoy es una “caca” las pesquisas en la net, en lo google… te llevan para los blogs… y en verdad non son los mejores “cajados” para aprender la lengua de nuestros vecinos…
Mira… espero que nunca entren en tu blog… pesquisando cajados…
Jajajja, jejejeje, jijijiji, es la onomatopeya de risa… acerca de la respiración, mi parece que estamos conversados…
yayaya

Fausta Paixão disse...

ai que me saíu um espanhol na rifa!
adoooooro, mas adooooooro mesmo!!!!!!!!!!

e... sabes quem é a "marta catequista", mixtu? anda sempre por aqui alguém no google à procura dela! e também "o que não se deve dizer aos homens"... como se eu soubesse!!!!!ou "o que dizer ao meu namorado".......

vague disse...

confesso: já passei por experiências inolvidáveis nas cadeiras do dentista. Já chorei, já suspirei a pensar 'ai o q é q se seguirá? já quase adormeci* (isto não é pra contar a ninguém)
:)


*
pq tinha muita confiança no dito e me tinha deitado tarde**


**
e não há nenhuma relação entre as duas razões, para que conste em acta :)

Fausta Paixão disse...

vague... acabaste de me dar uma ideia genial....

bem, eu acredito em ti, mas olha que isso de adormecer na cadeira do dentista é, no mínimo, estranho.
Olha o que ele poderia pensar!!!

vague disse...

Quase, Fausta, Fausta...
É difícil de imaginar, mas sendo uma consulta de rotina, ele tão suave e eu tão cheia de sono, quase me esquecia q estava ali, fechava os olhos embalada na música e qse ron ron.

Q ideia te dei? :)

Fausta Paixão disse...

lembrei-e do Dr Paulo, um jovem cujas mãos eram tão macias (ou seriam as luvas?) que quando acordei já ele me tinha levado ao colo para o sofá da sala de espera... só não me lembro se o que se passou foi sonho ou não!!!
Tenho de me lembrar de tudo para ver se vos conto!

ivamarle disse...

e pímbalas!! assim se cala um fala barato...