
Tinha de ser amador; não estou a ver que a criação de passarinhos se faça em regime profissional com quadros de nomeação definitiva e essas coisas. Tão amador que nem tentou arrastar-me a asa e foi preciso eu abrir o bico para ele perceber que afinal tinha ali ao lado - e à mão de semear - uma passarinha.
Não aguento mais este investimento a fundo perdido; nem tão pouco o fundo dos fundos que é onde me sinto ao chegar a casa, de asa tombada e bico rombo.
Que pode uma mulher fazer com um ornitólogo de barriguinha balofa a cheirar a alpista e que passa uma hora a falar do acasalamento das aves?
O que é que fiz? Armei-me em catatua, emproei a popa e arrimei-lhe uma daquelas frases que usualmente caem das varandas das casas decadentes ou das portas das tascas onde o papagaio parece que se enfrascou. Deixei-o de asa à banda!
Venham, poetas, venham!, e escrevam para mim sonetos alados.
Debicarei cada palavra, cada verso, cada rima. E, saltitando, soletrarei os decassílabos, um a um.