terça-feira, setembro 12, 2006

Fitas...

A conversa agradava-me. Sempre fui amante de artes e quando apanho pela frente um criativo o meu ritmo cardíaco acelera. De banalidades estamos todos fartos e eu então, com estas dificuldades de compreensão que vocês tão bem me conhecem, já não sei como reagir perante aquela visão masculina, aguçada em todos os ângulos menos no que mais interessa. Tudo da mesma cepa!
Foi por isso que despertei da minha letargia enfadonha quando ele me falou de ângulos: ângulos de projecção que levassem a cabeça à fricção para que, com movimentos suaves, não se danificasse a ponta preta.
- Ponta preta?
- Sim, a ponta da película. Temos de a conservar bem para que possamos depois fazer a dublagem.
Já estão a ver a coisa, não é? Ele, que era perdido por imagens, tinha-me convencido a participar numa realização completa. Ainda discutimos sobre a questão da metragem. Ele preferia que fosse curta e eu… bem, eu nessa não embarquei e disse-lhe com toda a determinação que ou era longa ou eu não fazia parte do elenco e ele tinha de fazer um casting para escolher outra protagonista.
Ora um criador que se preze não deixa fugir o momento e pensar num casting era coisa para demoras; nada que agradasse ao gajo encalhado que me tinha calhado na rifa aturar por estes dias. Enfim… a gente anda cá é para nos aconchegarmos uns aos outros e pronto, lá estava eu mais uma vez a fazer de mãe, que os homens, coitados, transpiram orfandade por todos os poros. Este então era mais baba e ranho, vá lá a gente entender os homens!
Criativo já eu sabia que ele era e, por mais abatido que um gajo fique quando se vê nas lonas, numa situação destas não se deixa passar por artolas. E se o resultado fosse como eu esperava ainda havíamos de nos aconchegar mais depois de renovados os recursos técnicos – só a sonoplastia era coisa para nos pôr os cabelos em pé; para não falar das locações, da cenografia e dos equipamentos. Esses eram de tal ordem que consegui antever uma montagem final cheia de qualidade.
- Liga aí o potenciómetro! - Pediu ele.
- Eu????
- Sim, eu dirijo a execução e tu colaboras.
- Mas não era isso que estava no roteiro, pois não?
- Isso o quê?
- Isso de dirigir. Eu sei que és um criador mas ainda ontem te queixavas da falta de uma lâmpada excitadora!
- Ó minha linda, o cinema é luz e luz é como que uma manifestação divina, é como penetrar num oráculo, num templo escuro onde se presta culto. É como… é como… é como dar à luz!
Foi aí que se fez luz no meu entendimento. Das duas uma: ou ficava ali de perna aberta até o menino satisfazer o seu fetiche ou dava um piparote na cabeça giroscópica, que ele era obrigado a fazer ali logo um “change-over” para se pôr na linha.
- Ora bem, disse eu, vamos lá rebobinar com calma senão pego na lâmpada de tungsténio, aponto à lente anamórfica e faço-te uma perfuração na película.

13 comentários:

mfc disse...

Tanto termo técnico... para uma coisa tão simples!!

Boop disse...

Fiquei cansada!!!!
LOL
Fala a mais!!!!

Lúcia disse...

já vi que a 7ª arte não é para mim.

Ivar C disse...

a lente anamórfica é para filmes 1:2.32

Fausta Paixão disse...

... e não dá para as "fitas"????
Tens a certeza bagaço?

Olha bem:
"ana" - prefixo de negação
"morphos" - forma

Conclusão - uma coisa anamórfica é uma coisa sem forma... bahhh... achas que tem graça????

Bastet disse...

Hum no fundo no fundo o que os gajos querem é sempre a mesma fita!

Ivar C disse...

É para fitas de 35 mm cuja imagem tem uma proporção de 1 na vertical por 2.35 na horizontal. Há mais, mas o standard é isto.
Como as fitas de 35 mm não suportam estas proporções sem comprimir lateralmente a imagem, é necessário uma lente anamórfica para descomprimir...

ivamarle disse...

e então afinal, que é que saiu? Uma curta ou uma longa?...

Anônimo disse...

comprimida ou não, anafórmica ou não...na vertical ou horizontal não saiu porra nenhuma porque o gajo queria era uma simples fita ou finta?!!!!!

Fausta Paixão disse...

Olha Iva, hoje em dia já ninguém tem paciência para estar muito tempo agarrado a nada! é tudo coisitas curtas e desenxabidas...
Não viste o outro a dizer que aquilo da forma analógica só serve para descomprimir.
Sétima, Lima? Oa gajos hoje em dia não chegam nem à segunda quanto mais à sétima... quando se sentem descomprimidos ou bazam ou adormecem. Fiteiros!!!

Nilson Barcelli disse...

Mas que grande fita...
Gostei do teu texto, pese embora o ataque cerrado a todo e qualquer homem que o criativo seja. É preconceito ou é porque sim? É que, na minha modesta opinião, há criativos para todos os gostos.
Beijinhos e bfs.

Francisco del Mundo disse...

Eh, pá, eu até ia bem, mas a última frase... Tou sem palavras...:D

wind disse...

Nunca te tinha comentado aqui, mas vou fazê-lo hoje só para escrever o seguinte: a tua escrita continua muito rica, o engraçado é que parece escrito por outra personalidade:)
bjs