Diga-se de passagem que nunca me interessei muito por coisas do passado. Não há nada como um bom presente, digo eu que rapidamente varro da minha vida os fracassos que me vão acontecendo, embora me vá metendo noutros porque nisto de homens não há como a gente ir apalpando o presente sem grandes preocupações com o futuro. É viver um dia de cada vez (expressão que me parte toda pela originalidade) e tentar quebrar as rotinas com as novidades possíveis.Levou-me para umas salas de caliça desfeita onde estariam, segundo o jovem, as obras de arte. Gulosa, afiambrei os olhos e suspirei antevendo o deslumbramento daquela iconografia. Ecoavam na minha cabeça as palavras que ele disse quando caracterizou o seu trabalho “conservar, preservar e divulgar” mas o que eu interiorizei mesmo foi aquilo das “perícias destinadas a apurar o valor histórico dos bens e a sua autenticidade”.
Ó meu amigo, de perita já eu tenho a fama!
Quanto ao valor dos bens, isso era mais com ele, mas a avaliadora estava atenta desde a porta de entrada.
“Ir ao museu hoje não significa ficarmos limitados a observar os objectos expostos…”, dizia ele enquanto me levava para o fundo do edifício.
Mau! Querem ver que o gajo organizou uma festa?
De repente parou e, de olhar meio atordoado pela paixão museológica disse: “Os museus possuem também a capacidade de revelar ao visitante que ele mesmo faz parte do processo histórico. Tu és a História!"
Porra! Chega de merdas, pá! Eu sei que tenho idade para ser tua mãe, mas chamares-me objecto histórico assim dessa maneira é demais. Leva lá o teu acervo e vai pedir colo à conservadora.



