
Ele dizia ser mestre do oculto e eu, que me pélo por brincadeiras que metam esconderijos e por poderes sobrenaturais, daqueles que depois desabrocham na sua plenitude mais vertical, cedi em acreditar só para ver se as coisas ocultas tinham mais sabor do que as que são claras como a água e normalmente se desfazem nela como a gelatina dita rija que envolve as cápsulas que a gente às vezes engole.
Ouvi relatos maravilhosos, soube que quando a minha alma foi criada recebi do lado oculto da vida eterna o meu
mantra individual que ele disse ter um som que só eu podia ouvir, aguçando-me a curiosidade auditiva e as outras que normalmente vêm associadas. Soube que cada pessoa tem sete corpos, todos unidos num corpo astral onde o desejo se manifesta. Ai deus, se eu com um corpo só, já é o que é... com um desdobrado em sete eu nem me tinha nas pernas só com o desejo de que o momento da projecção astral chegasse depressa.
Ele aconselhou-me calma pois era preciso aguardar o momento em que a energia do universo – acho que era o
prana, ou assim – nos bafejasse com um encantamento que eu haveria de sentir como
climax. Algo novo, experiência única, coisa nunca antes vivida nem sequer imaginada.
Podem imaginar como uma mulher se sente perante estas conversas ditas em sussurro ao ouvido. É de um gajo se passar, dirão vocês...
E é!
Eu já me derretia com a expectativa do poder da arte marcial interna, o
chi, de que ele falava a toda a hora e do
orgone, aquela coisa que ele dizia ser uma forma especial de energia omnipotente, responsável por variantes como a cor do céu, a falha da maioria das revoluções politicas, e um bom orgasmo. Não é que me interessassem as falhas, mas se isso tinha a ver com as revoluções, estava-me bem nas tintas, o que me interessava eram as outras valências.
Concentra-te no
scry – dizia-me ele, tocando-me ao de leve – pelo que eu desatei a gritar com quanta força tinha, ao que ele parece ter reagido mal porque imediatamente se levantou atirando com a almofada e dizendo que eu lhe tinha provocado uma desconcentração sensorial e que depois daquele meu grito histérico nunca mais teria o privilégio de ver o
mantra dele nem sequer no dia do equinócio.
Raios partam as tretas do oculto.
Mestres? Bem me parecia que aquilo do
chi e do
orgone não passava de engodo! Na volta o
mantra dele era insignificante e foi melhor nem o ter experimentado!
Fica uma mulher assim a ougar...
Safa! Não me meto em ocultices tão depressa!