segunda-feira, janeiro 23, 2006

Recordando jardins de Inverno...

Enquanto me detenho nas reflexões - que as minhas terminações nervosas ainda estão em estado de choque e precisam de uma avaliação satisfatória sobre as causas que as fizeram entrar em curto-circuito (curto?,mas não era longo? foi o vinho que duplicou tudo, está visto) para ver se aprendo a lição e a repito – vou-me lembrando de outras cenas bem acompanhadas, particularmente na qualidade dos vinhos.
A memória leva-me para um restaurante lisboeta num frente-a-frente caloroso – lembro-me que a travessa estava pousada em cima de uma pedra aquecida – com o Luís Delgado. Coincidência ou não, parece que há nomes que nos perseguem.
Era a nossa primeira vez, embora o jantar tivesse sido antecedido da primeira prova, que uma mulher não gosta de ser apanhada desprevenida nestas coisas de sabores novos.
Estávamos, então, à mesa e o Delgado sugeriu que fosse eu a provar o vinho que o empregado veio servir com aquele desvelo próprio de quem faz uma perninha ao fim de semana. Quando pego no copo e o levo à boca… olhei assim à altura dos olhos e dei com a cintura do jovem e zás, dei o primeiro gole; subi um pouco os olhos e fixei-me nos dele e só me lembro de ter dito: “pode servir, são lindos!”
O Luís ficou sério, mas não lhe faltava fair play, como muito bem demonstrou lá em casa, antes do jantarito, quando trouxe a vassourinha da cozinha para apanhar os vidros do flute que eu tinha acabado de partir com um pé desastrado, no chão, junto ao sofá. Por isso sorriu à minha ousadia e perguntou apenas se os dele ficavam muito atrás. Não, nada disso, os dele eram mais oblíquos, mas de um verde-garrafa-de-tinto muito sugestivo. Os do jovem eram cor de uva-preta e deitavam chamas. Ou era eu que as via, porque o vinho começava a incendiar-me!
Lembro-me também de ter precisado de ir de passeio até àquele lugar onde temos sempre de ir a meio de um jantar para telefonar à amiga mais íntima e dar uma palavrinha de assentimento (naquele caso era; da última vez tinha sido para rir aos molhes com a explicação do formato daquele contacto virtual que, ao tornar-se real, trazia agarrados uns óculos de fundo de garrafa).
E lá fui, devagar, para não tropeçar no degrau de separação das salinhas, sempre com os olhos no moço para ver se o rumo ia certo.
E… não sei o que diga mais…. Era suposto que este escritinho fosse só um entretenimento, enquanto o meu período de reflexão se prolonga até me recordar da verdade dos factos da última noite, mas a verdade é que fiquei a pensar naquela que terá sido a noite mais longa da minha doce vida em que eu e o Delgado, que não fazia, de todo, justiça ao nome, não conseguimos dormir mais do que uma meia hora, quando o sol já se reflectia nas grandes vidraças do jardim de Inverno que se fez Verão e que ainda hoje me ocorre à memória muitas, muitas vezes.

6 comentários:

mfc disse...

Foi-se o Maduro, mas ficou o Delgado. Bem me parecia que ainda se iria ouvir falar do Luís!

Fausta Paixão disse...

coincidências onomásticas, pirata.
olha para ti... já viste o número de homónimos que tens por aí?

peciscas disse...

Delgado? Tu contentas-te com um Delgado?

Não, nada disso, os dele eram mais oblíquos, mas de um verde-garrafa-de-tinto muito sugestivo. Os do jovem eram cor de uva-preta e deitavam chamas.

Ó Fausta tem cuidado com essa história de te deixares seduzir pelos olhos com cores relacionadas com vinho, se não, um destes dias ainda te aparece um com olhos de "rosé"...

Lúcia disse...

ai Faustinha, não páras de me surpreender.
nem sei que diga.... portantos...
beijinhos

Maria do Rosário Sousa Fardilha disse...

confesso que também pensei no cassete santana quando li o nome e imaginei o pior. tive que voltar a ele já esclarecida porque, confesso, os meus preconceitos tinham-me levado a muitos "franzires" de sobrolho com as veleidades simpáticas do tal de Luis Delgado.

mas sinto-te mais calma..., livra-te de "assentares" ;)

Anônimo disse...

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