sexta-feira, novembro 11, 2005

Norberto da perna de pau

Quando comecei a dar-me com o Norberto antevi lindos cenários de partilha. A novidade empolga-me sempre e toda a gente sabe que sou muito senhora do meu umbigo e que os louvores me assentam como luvas pretas de cano alto.
Partilha, porque me agradava sair com ele para a rua e ser olhada como companheira de uma tal figura: é que o Norberto usava uma pala negra sobre o olho esquerdo e compunha o brilho encefálico com um lencinho vermelho preso à testa.
No princípio achei-lhe graça mas quando, na intimidade, calhava apetecer-me fantasiar com tal adereço, o rapaz perdia a compostura e era como se desarmássemos um cow boy ou deixássemos sem cavalo o D. Quixote – ficava a olhar-me como um menino indefeso com um ar de fazer dó.
Ora eu, que gosto de homens pujantes e enérgicos, naquelas alturas aproveitava para lhe atirar com o lenço à testa e sair porta fora para respirar ar fresco. Porém, voltava sempre ao Norberto.
Mas o pior mesmo aconteceu a semana passada, já eu andava um bocadito farta de fantasias de ganchos a fingir braços manetas e pernas de pau de todos os tamanhos e relevos.
Já tinha caído a noite - o Norberto preferia as performances no escuro - e nós entrámos por ela dentro bem entusiasmados.
Entusiasmo para aqui, entusiasmo para ali, estava eu cheia de boas intenções a mordiscar-lhe a orelha, quando me lembrei de subir-lhe a pala para lhe beijar a pálpebra. Enfim, coisinhas de ternura que animam o bem estar. E vai daí o Norberto levanta-se de um salto e solta-se-lhe a pala, que desliza pelo ar ao toque do gancho que ele exibia na mão direita, e foi vê-la sair disparada pela janela aberta.
E o que é que eu vi?
Vi um homem de olhos esbugalhados, exibindo a careca alva e sem o vermelho do lenço, correr para trás do biombo que separa o quarto da salinha, no meu T zero das avenidas novas, e ficar sem pio nem forma, a palidez a subir-lhe ao rosto e o desânimo a descer-lhe noutras partes, enquanto me suplicava que fosse em busca do acessório. Ao mesmo tempo engolia as palavras que, se saíssem, diriam “sem o disfarce não sou ninguém”.

10 comentários:

Diolindinha disse...

Ó vizinha, então vocemecê fez isso ao Norberto? Por acaso viu se a perna tinha caruncho? E Olhe que o olho da oala é o direito... Carmba, o homem deixou-a muito alterada !
Pois é, os gajos sem o disfarce não são nada...

Leonor C.. disse...

O disfarce é tudo! Quando eu trabalhei num departamento da Força Aérea, era uma mecinha de 24 aninhos e eles perguntavam-me como é que iam melhor para esperar as moças :fardados ou à paisana. Depois de fazê-los rabiar a minha resposta era sempre a mesma: fardados, porque sem o físico de alfaiate não valem nada! É assim mesmo!

Fausta Paixão disse...

Bem..............
Gajos são sempre benvindos!

mfc disse...

A história está muito gira... e então aquela parte em que diz "e o desânimo a descer-lhe noutras partes..." já me fez sorrir!

jp(JoanaPestana) disse...

ahahahah, delicioso rapariga.
jinho

Maria do Rosário Sousa Fardilha disse...

é o norberto com a pala e eu com as próteses! pois, qu'é de uma moça sem as pestanhas e as unhas postiças, os enchumaços nas mamas, o botox nos lábios, os liftings na coxa direita (a esquerda é pró ano)....:lol:

pobre norberto! mas foi querido da tua parte querer beijar-lhe a pálpebra, tb gosto de pálpebras !

Perola Granito disse...

O nosso 4º leilao termina as 22h, queres ir la dar uma espreitadela? Beijinhos

Lúcia disse...

essa da careca alva lembrou-me alguém, mas num tou a ver.






Estou a ver que o Manel já aqui esteve, não deve haver problema pró moi LOLOLOL

stela disse...

ahahaha!!! adoro vir aqui, farto-me sempre de rir!
Há quem sem "máscara", não seja nada, ou seja simplesmente ele mesmo!
bjs

Anônimo disse...

Aprendi muito