sexta-feira, dezembro 28, 2007

Mise en Scène


Essa coisa da mise em scène fez-me lembrar o Tozé.
Nunca vivi dias tão bem representados. Ele fazia da vida um palco, o lugar onde o drama acontecia a qualquer hora do dia ou da noite.
Mas não falemos de dramas na sua verdadeira acepção pois a língua portuguesa não nos deixa muitas margens. Falemos de entretenimento.
O Tozé tinha o bom hábito de começar sempre pelo estudo da obra analisando cada elemento com o detalhe necessário ao bom desempenho. Durante os ensaios criava e definia caracterizações comportamentais mas tudo com muita movimentação no cenário; o investimento queria-se forte nas atitudes, nos gestos, nas entradas e saídas, enfim, em todos os elementos dos quais dependia o ritmo geral da sua actuação. De facto a resistência física de um actor é uma condição sine qua non para o sucesso, pois pode ser solicitado a executar movimentos exigentes, das acrobacias às pantomimas, da ginástica à dança, pelo que nunca me furtei à maior colaboração no sentido de o manter em forma.
Aquilo é que eram horas de trabalho!
O Tozé era também um grande especialista em dobragens, dizia ele, porque in loco, nunca o vi nesse desempenho, o que foi para mim, diga-se de passagem, fonte de grande frustração, tendo em conta o grau de expectativa. E o que mais me ficou em registo foi um pequeno senão relacionado com o hábito de decorar textos e movimentos. Precisando, como qualquer actor, de uma excelente memória, dei com ele a perguntar-me se não havia "ponto", num dos momentos em que uma terrível “branca” lhe negou a capacidade de continuar a acção.


quinta-feira, dezembro 20, 2007

Fausta Literata

Embrenhei-me nos subgéneros do romance.
Gosto de investigar aquilo que me interessa e quando me interessa. Obrigações, bem bastam aquelas do sustentozinho, que uma mulher não pode andar por aí aos caídos.
Percorri as nomenclaturas e diverti-me porque para cada um dos achados eu tinha a correspondente representação, mas é que aquilo batia tudo certinho, sem tirar nem pôr.
A meio da aventura conheci um romancista, bem entendido, posto que sou mulher pragmática e nunca teorizo sem poder dar o jeitinho à experimentação.
Venho pois, partilhar convosco um pouquinho do que aprendi como actante, mesmo parecendo pretensiosa, que é coisa que nunca pretendi ser. Porém, já que criei este espaço para que se veja a minha erudição por que não torná-lo extensível à minha… Paixão! (ou é ao contrário?)
Pois bem, de romance em romance resolvi que dos de cavalaria ando eu cheia, se bem que de picaresco os cavaleiros tenham pouco e eu, quase a deslizar para o género pastoril, pois que estou a abarrotar de sentimento, decidi que doravante só embarco num romance de aventuras, barroco quanto baste para que o epílogo seja de bom desenlace, sem dramas pelo meio, que de folhetins ando eu fartinha até ao âmago da minha pobre microestrutura. Vou, pois, focalizar-me no acto de linguagem, pelo menos como incipit de uma montagem em que só a pluralidade de registos poderá levar a um myse en abime mais-que- perfeito.

segunda-feira, dezembro 17, 2007

Comparações


Fiquei ali presa, qual adolescente deslumbrada, amarrada às formas, embevecida com a perfeição dos traços, a lembrar todos os Apolos sobre quem as minhas paixões haviam recaído.
Ele era a personificação da beleza mais completa, a dignidade do amante mais terno, a marca perfeita da luxúria, a ânsia do desejo mais corpóreo, a euforia do sonho, a contemplação…


… mas, meu deus, tanta pólvora para tão pouco rastilho?


Não há dúvida! A natureza nunca é perfeita, mas pedra é pedra e a dureza nunca se despreza!
Mas… por que razão tem a fantasia de se assemelhar tanto à realidade?

quinta-feira, dezembro 13, 2007

Tratar ou não tratar deles

Estava ali sentadinha a ver o envolvente azul dos Jerónimos e a pensar para comigo que tantos homens juntos são um desperdício: desperdício de tempo, desperdício de gasóleo gasto nos voos que os trazem e os levam e nos carrões donde saem para posar, desperdício de euros gastos nas compridas passadeiras que pisam inchados de tanta importância, desperdício de tempo de antena, desperdício de sol, que até brilha mais hoje… ouro sobre azul, dirá Sócrates, ali eufórico a fazer as honras da casa! Look at me! I’m really a very important person!
Alguns quase rebentam os botões dos fatos azuis… bahh, não os queria nem vestidos de pai natal, que as barrigas obesas são um estorvo a qualquer actividade física.
Reparei agora que o Barroso traz uma gravata a condizer com o casaco da comissária, que vem de vermelho.
Ah, lá vem o Zapatero! Humm, este não precisava de se fantasiar de coisa nenhuma…
… mas … pensando bem, o que faço aqui sentada em casa com este ar guloso? Já chega de virtualidades!
Vou aproveitar a borla da carris!

segunda-feira, dezembro 10, 2007

que fazer quado as noites são este pesadelo?!

Não é que os insucessos se somem e me impeçam de ser feliz. Feliz sou eu sempre, ou não fosse faustoso este estado de permanente paixão!
Contudo há umas noitinhas em que a coisa corre menos bem, pelo que esta ausência de compreensão dos homens deve ser um problema que morrerá comigo. Ou… antes morresse, que era sinal que as outras mulheres minhas iguais não o viveriam.
Não, isto não é angústia. É resignação.
Só que de resignação em resignação há uma pergunta que me apoquenta e me amarga os dias. Ou melhor… as noites, pois é no escuro que a coisa mais se complica.
Será que os homens têm todos este problema?
Qual?
É que ressonam que nem uns porcos, normalmente de forma proporcional ao tamanho das suas partes mais interessantes!