sexta-feira, abril 07, 2006

Oh Captain, my Captain


Ora cá está a minha participação para o concurso que se realiza aqui e aqui .








A minha grande questão andava sempre à volta da quadratura do círculo. Havia em mim a curiosidade das linhas infinitas, das intersecções, das elevações do xis e das inúmeras possibilidades das funções f.
Não me perdoava, pois, a ignorância no que dizia respeito às operações concretas, embora me saísse muito bem nas mais complexas operações formais. O que me minimizava sempre diante dos meus amigos intelectuais eram as referências constantes aos integrais e às derivadas, embora todos soubessem o que me passava pela cabeça perante este tipo de referências. Mas o que eu precisava de saber, mesmo, era como efectuar o somatório de coisas contínuas. Em termos pragmáticos esse tipo de operações não me oferecia dificuldade, quanto mais continuidade melhor, era o meu lema. Mas o pior era sempre a parte teórica.
Decidi, pois, frequentar aulas de Matemática no SPA (Special Pythagoric Academy), por recomendação especial do meu amigo Assis Matoso, cuja especialidade era o grego.
Tinham-me dito que o prof era o retrato chapado de Apolo e que só dava lições a adultos, por isso dali só se saía para o Olimpo, mas com toda a sinalética no papo, do alfa ao ómega. Achei a ideia genial: finalmente iria perceber o verdadeiro valor de Pi.
Espantei-me por ser a única pessoa na sala, mas soube depois que o prof P. Lorca fazia sempre isso para avaliar bem o recém-chegado às suas mãos. E eu, na boca dele, tinha todas as hipóteses de vir a ter sucesso na aprendizagem. E quando o disse agitou o ponteiro de uma forma sensual apontando-me o quadro. E eu fui.
Mandou-me desenhar um circulo. Lá dentro, um quadrado. Depois quatro triângulos isósceles. Disse, então, que tínhamos obtido um octógono regular inscrito no círculo. Agora eu só precisava de ir acrescentando triângulos até obter grandezas tão pequenas que tendessem para o limite, só então poderíamos falar de integral, dizia ele, face à minha urgência em aprender: “observamos que o conceito de integral pode ser introduzido de várias formas…”
Comecei a exasperar-me: introduzido de várias formas? Para conseguir saber a área definida pela curva? Mas… através da adição de micro-grandezas?
Pus-me a pensar que o melhor seria pedir-lhe as derivadas; sempre podia propor-lhe uma tangente à curva e aí fazia a demonstração dos meus conhecimentos, pois se ele pensava que estava perante uma caloira qualquer, estava bem enganado, o anjinho. Sim, porque os matemáticos têm todos aquele ar asséptico e aquele olhar-de-carneiro-mal-morto, no que se prova que a sua maior tarefa é a reflexão pura e simples; se a coisa se complexifica também lá chegam, digo eu, mas têm de fazer inúmeros raciocínios e esgotam-se em algarismos redondos. O que me surpreendia era o paradoxo, pois o P. Lorca dizia que o inconveniente do método de exaustão é que para cada novo problema havia a necessidade de um tipo particular de aproximação. E ficava ali parado a falar do Arquimedes.
Bem, a coisa ficou mais concreta com o exercício de cálculo de um integral triplo: ali no quadro desenhou um barril e, para que eu visionasse melhor a situação, colocou-me as premissas usando a minha linguagem. Falava de um navio de carga com barris de vinho. Teríamos de achar a logística da embarcação para não se correrem riscos. Logo, eram necessários integrais triplos para calcular o volume de cada barril.
E eu a imaginá-lo de corsário, ao leme dum barco pirata… sozinhos os dois a meio do oceano, carregados de barris de VQPRD.
Ainda o ouvi mencionar a expressão da curva do barril, mas depois passou-me assim uma coisa pela vista e não tive mais consciência dos meus actos, que foram todos tangentes à sua figura. E, num impulso que qualifiquei no limite oposto ao do zero, saltei para a mesa, elevei-me sobre as meias de seda bem esticadas nas pernas e, muito direita no olhar que lhe lancei, disse: “Oh Captain, my Captain”.

11 comentários:

antónio paiva disse...

......Oh minha querida Fausta, deves estar estafadinha, e baralhada também, com tanta ondulação e VQPRD, o caso não é para menos, passa lá no casebre que eu preparo-te a mézinha.....

Beijocas

Anônimo disse...

Simplesmente genial e com um final inesperado e dei gargalhadas visualizando a cena!
Parabéns!

joaninha disse...

Bem! Fausta estás pronta para aprontar um argumento para o Manoel de Oliveira... O meu aplauso e sem bruxarias... Beijinhos...

mfc disse...

Mas que SENO que tu arranjaste para subires para cima da mesa. Desta vez foi mesmo à TANGENTE! E quanto a INTEGRAIS, opto pelas conhecidas.

Lúcia disse...

Fausta, nem sei que te diga LOLOLOL
e esses teus conhecimentos de matemática dão-me um nó no "cerbo".
barris, navios... a tua sabedoria é infinita.
assim como a tua sede de conhecimento do pi.
eheheheh

Mac Adame disse...

Pá, isto está muito bom mesmo. Refiro-me apenas à escrita e não às teorias matemáticas, que dessas não vejo um boi. Parece-me que és candidata a um prémio (embora não conheça os outros textos).

Mónica disse...

tava a imaginar-te em "noites escaldantes" com o william hurt...

Mónica disse...

vens cá com o carpe diem... não te fica bem!

antónio paiva disse...

.....cá p'ra mim andas a fazer a fita crescer, digo eu.....

lollol

Beijoca

ivamarle disse...

isto não existe!!!!!!!!!!!!!!!!!!o sortilégio feito com triângulos, isósceles ainda por cima...não sei que volta é esta que consegues dar às palavras, que me deixa sem fala....

Anônimo disse...

Fausta ou Paixão?
Antes não podia dizer nada. Mas agora já estou desobrigada! Eheheheh!
Excelente este teu texto. AMEIIIIII
Obrigada pela tua escrita. Beijos e... até um dia destes.